O discipulado e as narrativas pessoais
Por Convidado(a)
30/09/2022, às 12h30 | Conteúdo atualizado em 30/09/2022, às 13h08
O chamado de Deus para sermos o seu povo, ou o chamado de Jesus para sermos seus discípulos acontece dentro de um contexto histórico, geográfico e pessoal único para cada um de nós. Deus chama Abrão em sua terra, Ur dos Caldeus, e o conduz num longo caminho no qual ele aprendeu a confiar em Deus. Moisés teve seu encontro com Deus já adulto, e foi chamado para liderar o povo hebreu numa longa jornada de libertação através da qual teve sua formação espiritual. Paulo, formado no judaísmo, foi chamado por Cristo no caminho para Damasco com autorização para prender e perseguir os cristãos e, de perseguidor, tornou-se um perseguido e fiel servo de Jesus. Assim foi com Davi, Samuel, Rute, Pedro e também com a mulher samaritana.
A formação espiritual acontece dentro de narrativas pessoais. Não se trata de um processo mecânico de produção em massa. São histórias singulares, com complexidades, traumas, desejos e percepções, que precisam ser levadas em conta no longo processo do discipulado. Jesus tratou cada pessoa em sua singularidade e pessoalidade. Ouviu atenciosamente cada uma delas. A maneira como ele trata o jovem rico é diferente da maneira que age com Nicodemos. A conversa que ele tem com a mulher samaritana é diferente da conversa com Zaqueu. A forma como ele trata Pedro, João ou Judas é única, porque cada um tem a sua própria narrativa, e a resposta a Cristo precisa levar em conta a particularidade de cada um.
Numa cultura consumista, impessoal e pragmática, o chamado de Cristo para fazer discípulos precisa recuperar a tradição bíblica, reconhecer e afirmar a singularidade de cada um e contribuir com a formação espiritual do discípulo a partir do lugar em que se encontra e da sua narrativa pessoal. Precisamos responder a Cristo não como um subproduto de uma cultura religiosa, mas como pessoas com histórias que precisam de redenção.
Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília (DF), fundador do Centro Cristão de Estudos (CCE), professor no seminário Servo de Cristo e autor de diferentes livros. Artigo publicado na Revista Trans Mundial 11.