A arte de ensinar pelos cartoons

Bastam alguns minutos de conversa com Rubinho Pirola para você perceber que ele é daquelas pessoas de papo agradável, dono de boas histórias e de um compromisso grande com o que se propõe a fazer. Há quase dois anos, ele mora em Portugal, onde coordena a RTM do país, parceira da Trans World Radio (TWR), trabalha para formar lideranças para a igreja do país, grava seu programa “Café com Deus”, que você ouve pela programação da Rádio Trans Mundial do Brasil, e faz seus muitos cartoons. 

Os cartoons são resultado de uma vida inteira de paixão por desenhos e histórias em quadrinhos. Todo esse convívio foi um estímulo e tanto para que este paulista, de Adamantina, partisse para os rabiscos no papel. 

Desde então, os cartoons não saíram mais da vida de Rubinho. Anos mais tarde, quando já era cristão foi para o Triângulo Mineiro para desenvolver o seu ministério pastoral, teve a oportunidade de lecionar histórias em quadrinhos e design gráfico, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde também foi diretor da Imprensa Universitária.

Em terras mineiras, Pirola observou que a sua igreja local, uma comunidade Presbiteriana tradicional, poderia investir em uma nova forma de comunicação que fosse além dos conhecidos boletins dominicais. Foi neste momento que ele sugeriu à direção que os muitos textos dessem lugar aos desenhos. 

A partir daí, não parou mais. Ele foi um pioneiro nos quadrinhos cristãos. Publicou pela Revista Elo, que trazia o seu trabalho, encartado na publicação de incríveis – para a época – 60 mil exemplares. E da sua fundação até o seu final. Na época de estudos na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, Rubinho ainda publicou pela Editora da Igreja Presbiteriana, além de ter cooperado com várias missões, organizações e igrejas com a sua arte.

Portugal
Ainda por Minas Gerais, o coração de Rubinho passou a bater forte por Portugal. Ele entendeu ter um chamado para exercer ministério e contribuir com o reino do outro lado do Atlântico. Era 1992. A princípio, ele passaria apenas dois anos no país, período de licença que havia conseguido com a UFU. Nos planos dele estava o apoio a uma igreja local em Portugal, mas a ideia não vingou. Ele começou a desenhar ainda mais durante a passagem pela Europa que foi reduzida a apenas um ano. Nesta época, ele já cogitava fazer um livro devocional ilustrado com cartoons. 

Café com Deus
De volta a São Paulo, a cidade que quase sempre para por causa do trânsito, Rubinho foi com os originais do livro à Editora Vida. “Cheguei lá e expliquei à secretária que me atendeu que gostaria de apresentar para avaliação e ver se era do interesse da editora publicar aquele conteúdo. Normalmente, isso de apresentar originais e a avaliação por parte da editora levam meses de espera, coisa normal no ritual das publicações porque passa por conselhos editoriais, entre outras coisas. Naquele dia, o diretor da editora, pastor Eudes Martins (atualmente na Sociedade Bíblica do Brasil / SBB) estava lá e ela levou o material a ele. Cinco minutos depois, ela ame chamou para dentro da sala para conversar com ele e o pastor Eudes me disse ‘está fechado. Temos interesse em publicar’. Saí de lá com contrato assinado”, explica. Nascia, desta forma, o “Café com Deus”. 

A primeira edição da obra, com sete mil exemplares, esgotou no dia do lançamento, em 1994, lembra Pirola. Posteriormente, vieram mais 11 reedições. Com ele, Rubinho levou o prêmio Areté, iniciativa que busca premiar projetos literários de excelência na área cristã, realizado pela Associação de Editores Cristãos do Brasil. 
Depois disso, o cartunista teve a oportunidade de voltar à Europa (primeiro para o Reino Unido como missionário entre os britânicos e depois, a Portugal para ajudar a fundar a RTM do país). 

Tempos depois, voltou ao Brasil e começou o “Café com Deus” (programa) na Trans Mundial brasileira. A cada episódio, um cartoon em destaque que ilustra o tema central abordado pelo apresentador. 

Humor ocupando a área acadêmica?
O humor nunca abandonou o ministério e nem a trajetória acadêmica de Rubinho. Em seu mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, defendeu a tese intitulada “A Ditadura do Mau-Humor no Movimento Evangélico Brasileiro”, onde concluiu que estudam-se várias possíveis causas para o crescimento do evangelho no país, mas ignora-se que a adoção do humor, na pregação mais leve, na adoção de músicas menos formais, e do abandono de posturas herdadas de fora – como marcas culturais do brasileiro, desde os indígenas, foi coisa decisiva. Um dos planos dele é transformar esse trabalho acadêmico em livro porque julga que a obra pode ser importante para a missão da igreja não apenas no Brasil.

Tempos atrás, Pirola foi surpreendido com um contato vindo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Dois trabalhos ligados a seus cartoons seriam apresentados em um colóquio (evento acadêmico) que discutiria arte e religião. “Eram dois alunos pesquisando sobre o meu trabalho. Sobre o humor e o sagrado. Um deles, fazia um paralelo entre as caricaturas de Deus, na obra de Laerte e na minha. Antes disso, uma aluna, da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), havia escrito uma dissertação de mestrado sobre o meu trabalho com cartoons e que resultou num livro sendo lançado neste semestre. Ela mostrou como um pastor evangélico pode fugir daquele perfil comum que as pessoas têm de que ele tem que ser bravo ou muito sério. Ela quis mostrar o meu lado cristão, professor de história em quadrinhos e cartunista – e como encontro na Palavra de Deus, registros do humor no Criador e sua revelação”, destacou. 

Humor para desarmar a resistência
Rubinho é um dos grandes defensores do uso do humor como ferramenta evangelística. “Sem dúvida nenhuma que a linguagem do humor, e ainda mais o humor gráfico, quebra muitas barreiras”, destacou. 

Hoje, Pirola tem-se dedicado a desenvolver um projeto de evangelismo e discipulado à base de muitos cartoons e bom humor, além de pesquisa teológica em Confissões de Fé reformadas ortodoxas para jovens a partir dos 12 anos na Europa, com o apoio da Trans World Radio, chamado The Foolish Life Academy (Academia Loucavida).

 

Conteúdo publicado na Revista Trans Mundial nº 9 (2º semestre de 2021)