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Páscoa: tempo divino, redenção e vida

Por Convidado(a)

06/04/2023, às 18h20 | Conteúdo atualizado em 06/04/2023, às 18h22

A experiência bíblica dos antigos israelitas com o tempo foi a de submeter a realidade ao Sagrado, ao Deus único que se revela a Israel no Antigo Testamento. Logo, o tempo natural e antropológico torna-se tempo de Deus. A Bíblia menciona os tempos designados pelo Senhor Eterno: os moadim ou hagim. Nesse sentido, o tempo torna-se a dimensão na qual se dá a primeira adoração e a relação de aliança e comunhão com Deus. Na verdade, o tempo é o primeiro templo nas Escrituras. Por isso, vemos o destaque da importância do Shabbat na criação. 


Não foi sem razão que corretamente compreendeu o filósofo Abraham Heschel: “O tempo é a presença de Deus no mundo do espaço. É na dimensão do tempo que o homem encontra Deus”. Logo, como o tempo é sagrado, Deus é encontrado no santuário do tempo. Portanto, o Deus da Bíblia é o Deus da história e nela se revela.

 

Todavia, essa história é definida a partir da experiência com o Eterno. Assim, as festas de Israel remetem também aos atos de Deus na história, como é o caso da Páscoa (Pessach). Nesse sentido, a experiência viva com Deus, o instante pleno de significado, eterniza-se e torna-se memória que ilumina o significado da vida e protagoniza a ação do homem em direção ao futuro, sob a diretriz do Deus Eterno. É através desse agir de Deus na história que o imponderável torna-se realidade a despeito da finitude dos seres humanos temporais tocados pelo Eterno. 


Quando olhamos para o centro teológico maior da revelação bíblica, a morte e ressurreição de Jesus, constatamos que se apresenta com um fato que se reveste de significado no contexto do tempo. É a retomada do Pessach que permitirá a inauguração da Ceia do Senhor, marca permanente da memória do sacrifício de Cristo. O tempo é invadido pelo infinito na encarnação do Verbo de modo a trazer não somente a redenção do pecado no eixo da história, mas também de revestir de eternidade e significado a finitude humana. Esse santo triunfo escatológico e histórico também delineia a derrota da morte e plena vitória da vida. O contraste entre morte e vida é tema teológico vital desde o início da Bíblia e adquire protagonismo fundamental quando a realidade da vida eterna está presente na oferta divina da redenção que há em Cristo Jesus.


Portanto, a Páscoa é uma viagem sagrada pelo tempo. É memória do distante passado israelita. É memória ampliada na morte e ressurreição de Jesus. É apropriação da vida eterna que nos é concedida. É antecipação do futuro escatológico glorioso que a redenção nos reserva em sua apoteose triunfante. Feliz Páscoa.

 

Luiz Sayão é professor, criador do "Rota 66", apresentador de diferentes programas da RTM, diretor acadêmico da Faculdade Teológica Batista de São Paulo e pastor na Igreja Batista Nações Unidas (IBNU)

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