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O fantástico mundo de Nárnia

Por Gabriella Gouvêa

17/10/2023, às 09h30 | Conteúdo atualizado em 17/10/2023, às 09h19

As Crônicas de Nárnia, criação do escritor irlandês C.S. Lewis, são obras literárias de alta fantasia que desde o seu lançamento, em 1950, seguem conquistando novos leitores. Compreendendo sete volumes, a série vendeu mais de 120 milhões de cópias mundialmente e foi traduzida para 40 idiomas, além de já ter sido adaptada para outros formatos, como teatro e cinema. Nesta entrevista, a RTM conversou com Gabriele Greggersen, uma das grandes autoridades na produção de Lewis no Brasil. Confira:

 

RTM - Na sua visão quais atributos da escrita de C.S. Lewis, em "As Crônicas de Nárnia", contribuem para a formação moral de seus leitores?

Gabriele - “As Crônicas de Nárnia” são histórias no estilo dos contos de fada ou das Parábolas da Bíblia que abordam uma série de valores e têm uma ou várias morais ou lições para a vida que são universais e como tais, são compatíveis com as Escrituras. A estrutura é simples: há uma comunidade com um grave problema, o herói surge para se sacrificar para solucionar o problema e a comunidade é redimida. Ela contribui para a formação moral dos leitores e particularmente da criança pelo processo de mimese (recriação de um contexto real em um universo ficcional) ou identificação com os personagens que têm toda uma estrutura moral, psicológica e espiritual muito bem elaborada e com base na moral cristã.


Por que 73 anos depois do primeiro lançamento de Nárnia, com tantas mudanças geracionais, essas histórias continuam conquistando as pessoas?
Precisamente por incluir uma ou várias morais universais é que as “Crônicas” são clássicas, sendo de valor eterno, consagradas na literatura universal. Suas aplicações transcendem o tempo e o espaço, pois dizem respeito a temas e problemáticas humanas universais. Como todo o clássico, as “Crônicas” são apreciadas por todos os tempos e todas as gerações.

 

As histórias de Lewis são revolucionárias, elas transformaram o olhar do público que não associava a história da salvação a dríades, faunos e feiticeiras. Podemos dizer que essa união de universos foi uma estratégia de evangelismo?
Não acho que o evangelismo tenha sido o primeiro objetivo de Lewis com as histórias, mas o objetivo era escrever histórias excelentes, com o gosto dos clássicos. O fato de servirem ao evangelismo é uma decorrência da sua característica cristã. É assim que Lewis defendia que o evangelismo deve ocorrer: não como primeiro objetivo, pois recairia no proselitismo, mas como consequência da vida cristã autêntica, do cristianismo puro e simples. 


Para você, quais são os principais ensinamentos que aprendemos com a leitura dessas histórias?
Os principais ensinamentos são os da promoção das virtudes cardeais: a justiça, quando Edmundo é resgatado em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, por exemplo; a prudência ou sabedoria, quando Lúcia, em Príncipe Caspian, enxerga o Leão, quando o resto das crianças não o vê; a fortaleza, quando o brejeiro de A Cadeira de Prata mete a mão no fogo para se lembrar da verdadeira realidade; e a temperança ou moderação quando as crianças usam de violência para defender Nárnia das forças do inimigo em todas as Crônicas, mas sem esquecer-se de sempre manter limpa a espada.Também aprendemos muito sobre fidelidade, coragem, amizade, honra, bondade, simplicidade e todos os frutos do espírito.


Conte para nós, quais são suas analogias bíblicas favoritas em “As Crônicas de Nárnia"?
A crônica que permite a maior quantidade de analogias bíblicas é O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa e eu as faço no livro O Outro Nome de Aslam (Lion Editora) e no Guia de Estudos das Crônicas de Nárnia que estou escrevendo para a Lion Editora. Minhas favoritas são a morte e ressurreição de Aslam como analogia da morte e ressurreição de Cristo; e a sedução da Feiticeira em relação a Edmundo com manjar turco como analogia da Queda de Adão e Eva.


Sobre os filmes de ACN, de que forma eles contribuem para retratar a mensagem que Lewis pretendia com as Crônicas?
Como todos sabem, os filmes têm uma linguagem diferente dos livros e estão submetidos a interesses mercadológicos diferenciados. Por isso não se pode comparar diretamente a mensagem dos filmes e dos livros. As batalhas são muito mais mirabolantes nos filmes do que nos livros e o romance é introduzido. Imagens muito judaico-cristãs como o cordeiro no final de A Viagem do Peregrino da Alvorada foram simplesmente censuradas nos filmes. Mas a mensagem dos valores cristãos das virtudes cardeais e dos frutos do espírito mencionados anteriormente está preservada nos filmes, de modo a contribuir para a sua propagação. Eles são um excelente meio pedagógico para ensiná-los tanto na igreja e no lar, quanto na escola.


Conheça mais sobre o trabalho de Gabrielle Greggersen em ultimato.com.br/sites/cslewis/.

 

Conteúdo publicado originalmente na edição 13 da Revista RTM Brasil. Para ler as demais reportagens da revista, acesse rtmbrasil.org.br.

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