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Notícias RTM

Volta incerta

Por Lucas Meloni

03/07/2024, às 15h30 | Conteúdo atualizado em 03/07/2024, às 13h01

Estima-se que mais de 200 pessoas, em média, desapareçam por dia no Brasil, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Apenas em 2022, foram 74 mil pessoas que não retornaram mais para as suas casas. Os motivos são diversos: desde problema de saúde, violência, conflitos familiares, entre outros. No mundo, outro aspecto que chama a atenção é o de desaparecimentos por razão da fé. Em 2023, 5.259 cristãos foram sequestrados ou simplesmente desapareceram em países hostis ao evangelho, segundo dados da Lista Mundial da Perseguição (LMP), elaborada pela missão Portas Abertas.


O número preocupa porque representa um aumento médio de 37% se comparado com o ano anterior. O indicador mostra o grau de dificuldade em professar a Cristo em muitos países. 


A situação é mais preocupante na Nigéria. Quase 90% dos casos ocorrem lá. O país, que fica no continente africano, é conhecido por razão de grupos extremistas como, por exemplo, o Boko Haram que tem como modus operandi o sequestro de garotas, além de estupros e casamentos forçados, entre outras práticas. É importante destacar, contudo, que a atuação dos extremistas não vitimiza apenas cristãos. Há muitos relatos de famílias muçulmanas que também foram alvo dos terroristas.


Em 2021, o grupo extremista sequestrou 279 meninas de um colégio em Jangebe, região noroeste da Nigéria. Elas ficaram alguns dias sob poder dos sequestradores. Em 2014, um caso semelhante envolveu o sequestro de 275 estudantes em Chibok, também no país. Até hoje, o paradeiro de 96 delas é desconhecido. O caso é popularmente chamado como “As Filhas de Chibok”.


Uma das principais fontes de perseguição aos cristãos na história recente é o Estado Islâmico. O grupo jihadista com berço no Iraque já foi o mais conhecido grupo extremista do mundo e ficou conhecido pelas terríveis cenas de vítimas decapitadas na frente de câmeras. Em meados de 2017, o grupo passou a viver uma fase de declínio por razão da morte de líderes importantes e por perda de poder e fortes investidas militares, sobretudo, na região entre o Iraque e a Síria. Em 2015, segundo a Rede Assíria dos Direitos Humanos, uma organização com sede na Suécia, o EI sequestrou mais de 220 cristãos na Síria em apenas três dias.


Marco Cruz, secretário-geral de Portas Abertas, explica que há sempre um motivo por trás dos desaparecimentos. “No contexto de perseguição, esses sequestros nunca são em vão. Eles tendem a enfraquecer a comunidade cristã, quando envolve meninas e mulheres, ou silenciar pastores e líderes, quando o alvo são eles pois uma comunidade cristã sem líder perde seus ensinamentos, a pregação da Palavra e a propagação do evangelho. Além de dar exemplo a outros cristãos, que se sentem pressionados a retroceder em sua decisão de seguir a Jesus. Os cristãos sequestrados podem ser mortos a qualquer momento. Como no caso do sequestro das meninas do Chibok, que tiveram que negar a Jesus, regressar ao islamismo e foram dadas em casamento, violentadas e até tiveram filhos com guerrilheiros do grupo extremista islâmico Boko Haram (que cometeu o sequestro). As que conseguiram fugir ou foram libertadas, contaram que muitas morreram por não negar a Jesus. Os ataques a igrejas, comunidades e vilas cristãs também têm o objetivo de minar a fé e a propagação do Evangelho nesses lugares”, explicou.


Raymond Koh
Um dos mais conhecidos e populares casos de desaparecimento é o do pastor Raymond Koh, ocorrido em 2017, na Malásia. O religioso dirigia até a casa de um amigo, quando foi raptado, em plena luz do dia. As imagens da câmera de segurança indicam que foi uma ação planejada. Quinze homens estavam envolvidos no sequestro. A ocorrência durou apenas 45 segundos.


O Governo da Malásia continua em silêncio sobre o paradeiro do cristão. Susanna Koh, esposa do pastor, está cansada. Durante seis anos ela lutou para que o governo da Malásia e a polícia encontrassem os responsáveis pelo desaparecimento dele. Nenhum deles conseguiu dar um passo sequer na investigação do caso que teve repercussão internacional.


No ano de 2019, a Comissão de Direitos Humanos da Malásia indicou que o pastor foi vítima de um desaparecimento forçado, possivelmente com a participação de agentes de forças de segurança oficiais que realizam ações ocultas a pedido do governo. Uma sindicância interna para apurar as suspeitas chegou a ser instaurada, mas nenhum relatório conclusivo fora apresentado. Até hoje, o desaparecimento do pastor segue sem solução.


A Malásia ocupa a posição 43 dentre os 50 países que mais perseguem os cristãos, de acordo com a Lista Mundial da Perseguição (LMP) 2023. Por lá, o islamismo predomina. Recentemente, Cruz se reuniu, na Embaixada do país em Brasília, com a primeira-secretaria da Malásia, Norliyana Alias, com uma petição cobrando por respostas ao caso. Ela também assinou o documento, que reuniu 14.181 assinaturas, das quais 12.179 foram coletadas no Brasil. 


Enquanto aguardam por respostas, os familiares de desaparecidos tentam encontrar alguma esperança em meio a outras ações de compaixão e graça. “Susanna continua pedindo que oremos por ela, agora, em especial, pelo trabalho que ela tem feito com refugiados na Malásia, tanto pela continuidade do projeto quanto para que os recursos financeiros sejam providos pelo Senhor, e também pela continuidade do julgamento”, destacou nota de Portas Abertas.


Saiba mais
Para acompanhar outras ocorrências de cristãos desaparecidos, acesse o site portasabertas.org.br.

 

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